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Artífices da mudança planetária
Os sintomas da mudança planetária que se avizinha são cada vez mais inequívocos. As pessoas cobram mais das outras a prestação de contas do comportamento moralmente elevado e cedem menos, portanto, às tentações da aparência e a conivência no erro. Aumenta a responsabilidade sobre os erros nossos e de outrem.
O jornalismo, desde que feito com responsabilidade, tem um papel importante a cumprir na elucidação dos fatos e na cobrança por um mundo melhor. Segmentos da imprensa televisiva têm apontado as chagas da criminalidade no Brasil a fim de expressar o desejo de novos tempos.
A denúncia pela Globo de roubo e contrabando de veículos do Brasil ao Paraguai, a falsificação de documentos automotivos, e de erros graves cometidos pela enfermagem no país, no programa dominical Fantástico em dezembro, indicam a demanda crescente da sociedade a favor de um planeta mais digno.
A televisão aberta, deste modo, presta melhor serviço à nação ao incentivar menos o consumismo e o sensacionalismo. Consigo assim identificar alguns aspectos positivos nestas grandes empresas da comunicação, embora sua tarefa seja insubstituível à do estado e ainda deixe a desejar.
Esta ressalva se deve a que muitos acreditam que a televisão substitui atributos essenciais do estado e informam-se unicamente por ela sobre deveres e obrigações do cidadão.
A punição à auxiliar de enfermagem que injetou vaselina em lugar de soro numa criança praticamente dada de alta no hospital São Luiz Gonzaga, em São Paulo, é procedente, mas há que recordar que todos somos passíveis de errar e de arrepender-nos dos erros.
Não creio que algum humano seja tão maculado a ponto de não merecer uma segunda chance, ou terceira, quarta. A dificuldade fica maior no caminho de provas, mas até a superação total do erro.
Acredito, por esta razão, na capacidade de recomposição dos outros, assim como espero que acreditem em mim e me perdoem, quando eu errar.
A bomba estourou na mão da moça; amanhã outra bomba poderá estourar nas nossas. Quem quer ser sacrificado?
Colhemos muita desgraça no Brasil por conta da imitação de modelos que não deram certo noutros países, como o de punição prisional nos EUA. Começam a ver por lá que a recuperação é maior quando se trabalha para a sociedade em vez de enjaular o indivíduo e excluí-lo. Até este reconhecimento as autoridades tupinicas terão construído centenas de presídios mais.
As milhares de declarações de diplomáticos estadunidenses ao redor do mundo trazem pouca novidade sobre a orientação arrogante e intrometida dos EUA, mas o vazamento de Wikileaks deixa antecedentes para a discussão sobre o sigilo de informações.
Julian Assange, criador do site Wikileaks, tornou-se presa de governos. Dizem que a prisão temporária em Londres deveu-se à denúncia de abuso sexual na Suécia. Inventarão mil pretextos para sua reclusão do sistema, que foi desafiado.
A imprudência do governo dos EUA é muito mais culpada da liberação destas conversas sigilosas que o cidadão australiano Julian Assange, bode expiatório do paroxismo da era da informação.
Queria ver se os dignificantes do famoso vazamento de Wikileaks manteriam a opinião se algumas de suas conversas familiares, segredos ou bate-papos pessoais por correio eletrônico forem publicados com o pretexto de liberdade de expressão.
Alguns dizem que não têm nada a esconder e creem que são diminutos os limites da linguagem para transparecer, como se a transparência fosse atributo do homem.
Espero que a privacidade não siga caminho tão funesto. De todos modos, há que seguir cobrando a humanidade por mudanças das que somos artífices.
Bruno Perón
mestre em estudos latino-americanos
https://brunoperon.com.br