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Os atentados em Santa Catarina
Retrocedemos para admitir a tese que o fim justifica os meios, atropelamos regras processuais, criamos um Guantánamo brasileiro em Mossoró (RN) para transferência daqueles apontados como líderes da organização criminosa (como se não houvesse uma Penitenciária Federal com RDD, mais próxima do estado catarinense). Foram emitidos cerca de 100 mandados de prisão por uma comarca que não era o foco principal do problema e nem da investigação.
Já que retrocedemos ao tempo que o fim justifica os meios, seria bom que o fim tivesse sido atingido, melhorando as condições no sistema penitenciário do estado; no entanto, o que se viu, essa semana, foi o oposto.
A crise vem de anos. Em novembro de 2012 houve a divulgação de um vídeo comprovando a prática de tortura no interior da Penitenciária de São Pedro de Alcântara - o que levou à instauração de uma investigação que tramita em passos lentos, afinal, a celeridade processual é privilégio de poucos.
O CNJ no ano de 2011 já apontava as condições precárias do sistema. A juíza relatora do mutirão, já naquele ano, questionava: que tipo de pessoa queremos que saia da prisão e volte ao convívio social?
Tratar presos como animais não vai transformá-los em pessoas melhores, pois é um ledo engano termos a ilusão de que a melhor solução é isolarmos aqueles que violaram as leis penais, colocando-os em construções de cimento, frias, sem ventilação, sem salubridade , sem sol, sem o mínimo de sobrevivência com dignidade, amontoando seres humanos em micro cubículos, contribuindo para a proliferação de doenças, e ainda exigirmos que nos tratem de forma educada, respeitosa, e que ao cumprirem suas penas retornem ao convívio da sociedade de forma mansa e pacífica - são palavras da consciente magistrada que conclui pela incompetência, incapacidade de gerir o sistema prisional por parte do estado de SC.
Segundo reportagem divulgada no YouTube em 31/03/2011, cerca de 700 detentos de São Pedro de Alcântara firmaram uma carta encaminhada à Corregedoria de Justiça do TJ-SC, onde apontavam reclamações e sugestões e em dos trechos contam que são agredidos constantemente, com pauladas, socos e tiros de borracha .
Mas quem deu importância? Se nada se fez para solucionar os problemas apontados pelo CNJ, quem iria se preocupar com denúncias dos presos?
E aí, quando a tragédia anunciada acontece, basta expedir mais mandados de prisão e jogar mais alguns criminosos no caótico sistema prisional, transferir outros para o RN e transmitir à sociedade a falsa ideia de que o problema foi solucionado.
Mas, na verdade, só piorou.
fonte: https://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=29635