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E a família?
Quando menciono a família, não me refiro exclusivamente ao tradicional pai, mãe e filhos(as). Estou contemplando todas as composições familiares, que devem ter presente os valores antigos e novos, para que sejam ninhos de aconchego, ternura e calor humano.
Quantos problemas pessoais e sociais poderiam ser sanados se buscássemos resgatar valores que para muita gente e para a sociedade parecem ultrapassados e desnecessários! Quantos fatores criados por nós mesmos, a partir de princípios e paradigmas de uma sociedade consumista, vieram abalar a personalidade, e também as relações pessoais, familiares e sociais!
Tomemos como exemplo os meios de transportes. É comum famílias disporem de tantos veículos quantos forem os membros das mesmas. Podemos até dizer: é o progresso que chegou! Mas somente este fator nos leva a várias conclusões desagregadoras: a mobilidade humana, nas cidades, leva, na verdade, a uma imobilidade. O trânsito fica sempre mais lento, e assim o tempo que perdemos nas estradas nos priva do convívio familiar. Cada membro sai e chega a casa em horários diferentes, causando desencontros nas refeições e, consequentemente, nos diálogos tão necessários para manter a coesão, a afetividade familiar.
Cada pessoa faz um programa particular, ou seja, a casa, que deveria ser o recanto gostoso de encontro e aconchego, se transforma em uma pensão, onde os laços familiares são rompidos, e aí começa a solidão que vai levando as pessoas a desenvolverem patologias. Não basta viver sob o mesmo teto, por algumas horas, para caracterizar uma família feliz.
Vivemos como se estivéssemos distantes e nos relacionássemos, pela facilidade da tecnologia de ponta, apenas com palavras de incentivo e de carinho, de forma virtual, faltando o calor do abraço, da presença real, da ternura, do acolhimento mútuo, enfim, daquele contato pessoal que refaz nossas energias e extirpa a solidão, que com o tempo vai gerando indiferença e depressão, muitas vezes levando ao limite da perda do sentido da vida.
É salutar repensarmos seriamente os nossos valores, conceitos, relacionamentos, consumismo, para que tenhamos famílias não diria padronizadas, mas humanizadas, e uma sociedade feita de gente solidária e não solitária.
Os consultórios de todos os tipos estão sobrecarregados, especialmente os daqueles profissionais que tratam de problemas psíquicos. Porém, não podemos ficar tratando somente os problemas, é preciso ir às causas.
Assim, é urgente rever nossos hábitos particulares, familiares e sociais para recuperarmos o verdadeiro sentido da vida, e assim seguir nosso caminho que deve ser construído de solidariedade, de encontros calorosos, que nos devolvam a alegria de viver. É possível, embora difícil, uma readaptação, basta um pouco de esforço e sacrifício, que mais à frente serão recompensados.
Ninguém se basta a si mesmo; não adianta teimar. Ficaremos doentes inevitavelmente e, como consequência, construiremos uma sociedade doente, pois cada um dá aquilo que possui.
Poderemos tentar viver a autossuficiência, e provarmos que não ficaremos depressivos, mas ficaremos frios e calculistas, o que não deixa de ser uma grave patologia.
Todavia, não confundamos bastar-se a si mesmo com viver só. Posso viver sozinho e não ser solitário, como posso viver com outros e não ser solidário. Sejamos fraternos e solidários, por famílias e sociedade mais saudáveis e agradáveis.