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Degola sim, seios não
Decisão do Facebook causa polêmica. O vídeo que exibe degola volta a ser publicado. Em maio deste ano, o Facebook concordou em retirar conteúdo violento de seus servidores depois que advogados da ONG americana Family Online Safety Institute alertaram que imagens de violência poderiam causar dano psicológico a jovens e crianças que são usuários dessa rede social. Embora a rede social declarasse que removeria esse conteúdo conforme fossem feitas as denúncias e após avaliação, essa decisão teria sido revertida.
O assunto causou polêmica na imprensa mundial nesta semana, quando um usuário anônimo denunciou que, mesmo após reclamações dos usuários, o Facebook não retirou um vídeo que mostra a degola de uma mulher. Embora os termos de serviço do Facebook declarem que não se pode publicar conteúdo como mensagens de ódio ou ameaçadoras, pornografia, de incitamento à violência ou que contenha nudez ou violência gratuita, um porta-voz da empresa reagiu à polêmica dizendo que os usuários do Facebook têm direito a mostrar o mundo em que nós vivemos.
O professor Shaun Hides, da Universidade de Coventry, no Reino Unido, em artigo publicado na CNN levanta vários pontos a serem considerados: a maioria da mídia ocidental opera sob códigos de conduta que não permitem a publicação de tal tipo de conteúdo, porque parte de sua audiência pode ser constituída de crianças. O Facebook, diz Hides, acha legítimo permitir que sua audiência veja uma mulher sendo morta brutalmente, mas não permite que seus usuários postem imagens de seios nus por medo de causar ofensa. Hides diz que essa política é inconsistente e que o Facebook está interessado na geração de mais tráfego de pessoas e informações. Em resposta à indignação contra vídeos como o da degola, o Facebook informa que vai colocar um aviso de alerta nos vídeos com tal conteúdo.
Se antes tal tipo de violência estava restrito a mídias locais com circulação restrita a consumidores específicos, agora centenas de milhões de usuários no mundo estão a um clique de acessar tal conteúdo. Em caso recente, um menino em São Paulo obcecado por um vídeo game queria ser um pistoleiro de aluguel. Nesse vídeo game, criou uma lista negra de pessoas a serem assassinadas. Ao apertar o gatilho da arma e eliminar vidas humanas, seus pais, sua tia-avó e sua avó, a criança de 13 anos talvez pensasse que estava apenas clicando no mouse de seu computador e ganhando pontuação positiva no game do mundo imaginário que criou.
A banalização da violência torna sem valor uma vida humana. Milhões de pessoas irão ver vídeos como o dessa degola e alguns poderão achar que isso é normal. Mesmo que o Facebook não permita comentários de apoio ao ato violento publicado e coloque um aviso, a banalização da violência já estará feita conosco, em nossas casas, com nossos familiares. A pergunta que fica: degola não ofende, mas seios nus ofendem?