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Sêneca e a brevidade da vida
Seria a natureza má por nos fazer nascer com a perspectiva de uma vida curta? Se a vida se transformasse em arte, contrariando Hipócrates, poderia ser mais longa do que é?
Para Sêneca, não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos grande parte dela. O que a encurtaria seria o desperdício, a indiferença, a rotina. Ela se reduz como a riqueza nas mãos do mau administrador. É uma questão de saber vivê-la. Prazeres, inércia, preocupação com a vida alheia, ambição e violência são ingredientes que a encurtam. Este cuida daquele, que cuida de outro; ninguém cuida de si mesmo.
Este viver para fora, olhando o mundo como espectador, ou ator inconsciente no teatro das grandes ambições, esfria a vida, pois todos são econômicos na preservação de seu patrimônio, mas desperdiçam o tempo, a única coisa que justificaria a avareza.
Desperdiçar o tempo é o mesmo que desperdiçar a vida. Usar boa parte do tempo para si mesmo é o que não se faz.
O homem ocupado não vive, vegeta. E teme a morte, que se aproxima a passos rápidos. É necessário aprender a viver, para poder saber morrer.
É triste fazer um balanço da vida e concluir que pouco dedicamos a nós mesmos. Por isso, é necessário organizar todo o dia como se fosse o último, para afastar o sofrimento da ânsia do futuro, e o tédio do presente.
Receber pensões, aluguéis e soldo, e concentrar aí todas as preocupações é uma desvalorização do tempo na inconsciência; e ninguém nos devolverá o tempo perdido.
Nada que não tenha sido submetido à própria consciência tem um valor efetivo. E o vivido na inconsciência não é vivido, é esquecido.
A consciência acrescenta à vida a existência, a eternidade.
Sêneca, pensador romano do início de nossa era, nasceu em Córdoba, Espanha. Muito jovem foi para Roma, onde recebeu educação refinada. Filósofo, advogado e político, teve vida atribulada. Conselheiro de Nero, destacou-se pela ironia e muitos escritos. Por conta da política, recebeu do imperador a ordem de suicidar-se, que executou serenamente, da mesma forma como o que pregava em sua filosofia.
Costumamos dizer que não está em nosso poder escolher os pais que o destino nos deu; porém, podemos ter um nascimento de acordo com a nossa escolha. Há famílias dos mais nobres espíritos, basta escolher a qual delas desejas pertencer e receberás, não apenas o nome, mas também os bens, os quais não precisarás vigiar de forma miserável e mesquinha, pois quanto mais forem compartilhados, maiores se tornarão.
Assim, a vida do sábio se estende por muito tempo, ele não tem os mesmos limites que outros, é o único que não depende das leis do gênero humano, todos os séculos o servem como a um deus. Algo se perde no passado. Ele recupera com a memória. Está no agora? Ele desfruta. Há de vir com o futuro? Ele antecede. A união de todos os tempos em um só momento faz com que sua vida seja longa.
Membro da Fundação Logosófica
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