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Aprovação automática


O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), se elegeu, dentre outras bandeiras, prometendo maior rigor no sistema de promoção de alunos nas escolas municipais. No governo, fez o que costumam fazer essas criaturas exóticas inventadas por Lula, boas de urna, e ruins - para dizer o mínimo - de governo: o inverso, isto é, ampliou os casos de aprovação automática.

Não pretendo me ocupar do personagem menor, ex-ministro e prefeito. Escrevo sobre a aprovação automática, uma praga que se alastra sobre o sistema de ensino, e que dá valiosa e inglória contribuição à decadência, em marcha batida, da escola pública brasileira.

O sistema é simples: o aluno passará de ano, não tendo a menor importância se ele aprendeu ou não, se teve notas boas ou más, se empenhou-se ou não deu a mínima para o curso. O efeito dessa “bondade pedagógica” é devastador para o sistema de ensino.

Basta saber - e todos sabem - que os alunos, dada aquela condição, tendem ao acomodamento, e não ao esforço aplicado. Para que completar os estudos em casa, dedicar tempo à leitura, fazer os deveres se, ao final e de toda a maneira, ele será promovido à série seguinte?

A progressão obrigatória causa a falsa sensação de dever cumprido, naquele círculo de pais que se dá por feliz com a matrícula do filho na escola. Como o filho não perderá o ano, não há porque acompanhar a sua evolução na escola, saber do seu aproveitamento e das suas notas, reforçar o contato com cadernos e livros, ajudá-lo nas tarefas. Desaparece a saudável pressão para que o aluno estude e se empenhe mais, de modo a não repetir o ano, não ficar para trás.

Os professores, de sua vez, tendem a desconsiderar as diferenças entre os alunos, o seu estágio de conhecimento. Afinal, o ano termina de uma forma igual para todos. Saber quem se destacou, está atrasado ou precisa de aulas de reforço, são questões que se transferem para o ano seguinte, a série seguinte.

Os secretários, os burocratas da educação, os governantes, estes adoram a aprovação compulsória, porque ela maquia os índices de evasão escolar. As autoridades podem mostrar estatísticas mais palatáveis aos olhos da sociedade, a qual, entorpecida e letárgica, mal sabe que a educação, neste país, e de longo tempo, vem perdendo conteúdo e qualidade. A aprovação automática, na conta desses “pedagogos”, serve para diminuir os gastos da escola, porque demanda menos espaço, material e professores, menos aulas de reposição e reforço. Todo esse quadro causa danos irremediáveis para o aluno, sujeito e destinatário do sistema.

O avanço obrigatório vai gerando alunos cada vez menos interessados, e que por isso aprendem cada vez menos a ler, escrever e fazer contas, em um sistema de ensino cada vez mais nivelado por baixo, comprometendo dramaticamente o futuro do país.

É fácil distribuir favores e benesses, ainda mais com o bolso do respeitável público. Penoso e desafiador é o objetivo, declamado em prosa e verso, de uma educação gratuita, pública e de qualidade, à qual porém só se alcança com muito suor, esforço e trabalho.


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