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A curtida e a risada
Não muito tempo atrás, as pessoas se utilizavam de rodas de amigos para conversar. Às vezes ocorria em bares ou restaurantes e era praticamente uma confraternização. Nesses momentos, normalmente havia um trapalhão, aquele que fazia todos rirem. O palhaço da turma saía do encontro, geralmente, com seu ego inflado, pois fora o centro das atenções e recebera a admiração do grupo pela sua sagacidade.
O engraçado da turma era sempre o mais adorado. Uma janta, um happy hour ou mesmo um aniversário sem ele não era uma festa completa. Era ele que despertava a alegria escondida e fazia todos voltarem ao tempo de criança, só para catarmos nossa agenda escondida no baú e relembrar momentos já esquecidos na memória.
Porém, algumas mudanças no comportamento social se instalaram. O brincalhão da turma não é mais aquele admirado pelas piadas ou habilidades. Hoje o que dita as regras são as curtidas e os compartilhamentos nas redes sociais.
Se você recebeu um milhão de curtidas ou compartilharam um vídeo seu publicado na linha do tempo e não mais na vida , então você é o cara. Já aquele que não recebe as curtidas, os compartilhamentos e os comentários simplesmente é deixado de lado, relegado à condição de patinho feio. Torna-se, assim, um excluído e rejeitado, pois não é sucesso na mídia, ou seja, na sua linha virtual do tempo.
Talvez seja exatamente isso que leva as pessoas a publicarem tanto e tão rápido em mídias como o já decano facebook e o mais jovem instagram. No final do dia, o grau de satisfação de cada um dependerá de quantas pessoas suas mídias sociais atingiram.
E assim as relações vão mudando. E, em vez de contatos pessoais com o brincalhão e com a turma, os encontros passaram a ser virtuais e mais afastados. Não é raro encontrar grupos de pessoas sentadas em silêncio, cada qual com os olhos direcionados para o seu aparelho eletrônico, normalmente o telefone. Um verdadeiro esconderijo virtual de relações.
O melhor nessa ocasião é descobrir, ao final, que você não é um patinho feio, mas que pertence à família de gansos, como o desenhista polonês Pawel Kuczynski, que parece preferir a risada à curtida.