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Para superar o sentimento de culpa
Continuação do artigo da semana passada, quando uma mãe se sente culpada pelo suicídio do filho, porque não atendeu o telefonema dado por ele antes de morrer. Nesse caso, a melhor alternativa de trabalho foi introduzi-la num grupo de tratamento de depressivos. Além das sessões de psicoterapia, muitos dos participantes se reuniam durante a semana, se preocupando em conhecer e apoiar uns aos outros.
A ajuda dada por alguém que está passando pelo mesmo problema é bastante saudável. Uma frase dita por alguém em quem se espelha é muito mais significativa do que mil frases dita por alguém que apenas quer lhe ajudar, mas não se identifica realmente com o problema. Esse é um dos pontos altos do trabalho em grupo.
Mas psicologicamente o que fazer? Ela precisava superar a culpa. Para isso foi preciso ressignificar sua relação com o filho, e não apenas o fato de ela não ter atendido o telefonema. Foi necessário levantar quem era ela, não apenas como mãe, mas como mulher, como pessoa no mundo que está construindo sua vida.
Compreender também quem era seu filho (que já tinha quase 40 anos de idade), que, além de filho, tinha outras relações, era casado, tinha filhos, amigos, trabalho e que a personalidade dele não foi talhada apenas pela relação mãe/filho. Ela precisava entender e aceitar que as decisões dele ultrapassavam essa relação e que, por maior que seja a dor de perder um filho, ela tinha outros filhos para se dedicar.
Não é apenas com conversas que se trabalha num grau profundo da personalidade, a ponto de dar outro significado ao passado. É necessário utilizar técnicas em que a pessoa se reconheça diferente. Pois não é o psicólogo quem dá outro significado à vida do paciente, mas o próprio paciente consegue perceber seu passado por meio de outro ponto de vista, a ponto de alterar como se vê no presente. Ao fazer isso, consegue antecipar um futuro positivo. Nesse sentido o grupo é um facilitador para aplicação dessas técnicas.
Com o passar do tratamento, o perfil de liderança que essa paciente já apresentava na sua personalidade foi ultrapassando a depressão. Começou a ajudar outros colegas que passavam pelo problema também causado por acontecimentos traumáticos e de culpa profunda. Voltou a sentir-se útil e a ver um novo sentido na sua vida.
Provavelmente não vai esquecer do acontecido, nem da saudade do filho, mas as lembranças não tinham mais o peso que a culpa lhe causava. Com os sofrimentos severos que as pessoas passam, não é mais possível zerar as lembranças, como num computador. Mas é possível dar uma outra oportunidade para uma nova vida.