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Quando um pássaro fala
Eu vivia livre. Voava de galho em galho brincando e procurando alimento. Cantava entoando as mais lindas notas. Foi assim desde que minha mãe me lançou do ninho para que eu batesse pela primeira vez as minhas asas.
Sempre encontrava outros como eu. Juntos, bicávamos tudo que encontrávamos pela frente. Éramos crianças em idade de descoberta e o bico eram nossas mãos utilizadas para tudo desvendar. Limpávamos nossos bicos e combinávamos novas empreitadas em busca de alimento e diversão.
Um determinado dia, à procura de alimento, entrei para recolher uma bonita semente que estava à minha espera. Estava em uma caixa de madeira que me lembrava uma pequena floresta de troncos finos e alinhados um ao lado do outro.
Quando apontei o bico para o alimento a floresta se fechou instantaneamente à minha volta. Nunca mais encontrei meus amigos.
Me jogaram depois disso numa outra floresta de árvores fininhas de prata, amarradas entre si.
Minha nova casa tem uma porta por onde jogam os alimentos.
Hoje vivo só e, às vezes, algum da minha espécie passa voando por perto e pergunta por que não saio para voar junto. Respondo tristemente apenas que me inseriram num mundo novo, com seres diferentes de mim, que falam uma língua que não entendo. Às vezes um deles vem ao pé da minha prisão e tagarela algo. Tento argumentar com ele para que me solte, que quero sair e voltar a voar com os da minha espécie, mas ele não entende a minha língua e sorri, parece que caçoando de mim.
Assim os dias vão passando e apenas minha felicidade está voando, mas agora para bem longe de mim.