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A cadeira ao lado
Era uma peça de teatro qualquer que servia apenas a diversão de quem vive estafado pelo agito dos tempos modernos. Matthew como todo o jovem, atrasado, chegou e tomou seu assento que, por mero acaso, era ao lado do de Mary. Estendeu o seu braço sobre o da poltrona como um barco que solta sua âncora ao aconchego do mar remansoso.
Mary sentiu o movimento e o perfume. Meigamente desviou seu olhar de profundidade oceânica ao invasor. Avistou-o finamente vestido enquanto ele tentava se ajustar ao assento.
Houve então a primeira troca de olhares entre ambos com dois sorrisos tímidos se encontrando como o choque de uma massa de ar frio e de ar quente.
Depois de tê-la visto e de direcionar seus olhos ao palco, o rapaz encheu os pulmões, com ar suficiente para sobreviver pelo menos mais duas vidas sem oxigênio.
A apresentação no palco seguia com encenações, personagens e paisagens que mudavam pouco a pouco prendendo forçosamente a atenção dos dois.
O fogo existente em Matthew começava a encandecer o ambiente. Seus olhos estavam em chamas por aquela mulher da cadeira ao lado, seu coração estava aos tombos, e sua ansiedade o corroía como a ferrugem ao ferro.
Mary continuava fixada no palco a sua frente, embora tivesse percebido que o assento ao lado mostrava-lhe um espetáculo muito mais atraente aos olhos.
Aquela peça de teatro parecia eterna. Àquelas horas, ambos estavam inquietos por novas trocas de olhares que o pedido de atenção do palco não lhes permitia.
Matthew, porém já imaginava em muito mais do que dividir os mesmos suspiros e aplausos com Mary, queria despir àquela alma desconhecida.
A encenação, enfim, chegou ao fim. As cortinas se fecharam. Mas não para Mary e Matthew.
Para eles, outro espetáculo estava prestes a começar naquela noite e, a plateia toda desejaria, que o final fosse feliz.