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As chaves da porta
Quando as chaves já estavam em minhas mãos, mirei-as com a profundidade de um pensamento solitário. Elas preencheram metade das minhas mãos; a cor era vivaz como o ouro.
Nelas vi mais que velhos pedaços de bronze de meio cilíndrico e soldas quadradas nas extremidades. Elas significavam algo mais que apenas um metais recortados e juntados artificialmente.
Enquanto elas me tomavam a atenção, meus olhos foram vagarosamente se fechando. A imaginação aflorando deu azo a um vertiginoso horizonte que se abriu a minha frente, como aquelas imagens de quem, pisando sobre as nuvens, bate às portas do céu e é tomado por um clarão de um portal que se abre em sua vista. Vi-me mergulhando naquela porta utilizando aquelas chaves bronzeadas.
Imagens foram se sucedendo.
Vi uma mulher de sorriso radiante. Assim que a vi percebi que a conhecia e que as linhas no seu rosto indicavam a passagem de alguns anos por ali. Ao lado dela vi duas crianças alvoroçadas. Elas não entendiam muito bem o que lhes acontecia, mas os sorrisos iluminados deixavam transparecer que algo muito bom lhes acontecia.
Um momento mais passou e as figuras dessas pessoas ficaram num segundo plano. Apareceram alguns outros breves momentos nublados. Parecia que pela porta entrava uma nuvem curta como a chuva de verão que trazia uma tempestade passageira que acabara por me obstruir a visão e me mostrar a fúria vertical da natureza.
Percebi que minhas mãos estavam suando. A magia daquelas chaves douradas me retiravam do mundo real e me entregaram completamente ao imaginário.
Mas para minha infelicidade precisei retornar.
Lentamente abri os olhos e deixei que meu campo de visão novamente fosse tomado por aqueles metais sobre a minha mão.
Tive a certeza de que elas eram o objeto que abriria o caminho de uma nova vida.