DIZ AÍ, PADRE LINO!

"Eu estou muito admirado com Santa Catarina de tanto feminicídio, que vergonha"

O padre Lino Fistarol, de 88 anos, que completa 60 anos de sacerdócio neste ano de 2025, participou do Diz aí! com a jornalista Fran Marcon e o historiador Edison D´Ávila. Ele falou sobre fé, sacerdócio e Páscoa

Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]

(FOTOS: FABRÍCIO PITELLA)
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O senhor completa 60 anos de sacerdócio neste ano. Quando teve certeza de que era essa a vida que queria seguir?

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Padre Lino: Meus pais são de Guaricanas, bairro de Ascurra. Casaram e vieram para Gaspar, lá no Gasparinho, que fica a quatro quilômetros da cidade. O irmão da mamãe era ...

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Padre Lino: Meus pais são de Guaricanas, bairro de Ascurra. Casaram e vieram para Gaspar, lá no Gasparinho, que fica a quatro quilômetros da cidade. O irmão da mamãe era padre Salesiano, padre Silvio Mondini, que estava em Ascurra, onde havia o seminário. Outro irmão, era um irmão leigo Salesiano, religioso, só não rezava a missa. Tinha todos os deveres e direitos do irmão Salesiano. Todos os anos, naquele tempo, eu nasci em 36, o padre Silvio vinha a Gaspar e dizia: “Juntar esmola para o seminarista”. Papai o acompanhava, ganhavam dois sacos de arroz, saco de batata, tudo que era alimentação concentrava em nossa casa, depois um caminhão levava para o seminário. Nós somos em nove irmãos; o irmão mais velho, o Mário, que é falecido, duas irmãs, depois veio eu e mais dois irmãos, depois três irmãs. Naquele tempo, o Salesiano nem estava na cabeça. O padre perguntou para o papai: “O senhor tem tantos filhos, por que não manda algum para estudar para padre?” Era a expressão daquele tempo. Meu pai disse: eu não mando ninguém, se alguém quiser e tiver essa vontade, vou apoiar. Entrei aos 13 anos, em fevereiro de 49; em 21 de julho o papai faleceu.

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Padre, na sua extensa e bela vida de sacerdote, o senhor foi professor. Os salesianos geralmente são professores. E circulam, conforme a necessidade, por várias cidades. Por onde o senhor já circulou?

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Padre Lino: Eu sou muito feliz. Nós tínhamos oito colégios, fui diretor dos oito colégios. Era outro tempo, 66, 67, 68, 69, 70, eu vim como padre aqui. Mas já tinha feito três anos de magistério, que era a nossa experiência prática daquilo que aprendemos. Passei por Rio do Sul, Bagé (RS), e fui para a Teologia, em São Paulo. Ordenado, vim para cá e gostei demais. O povo era diferente. De 78 a 83, fui mandado para Santa Rosa (RS). Eu era diretor do colégio e vice-diretor da faculdade que nós tínhamos lá de Educação Física e Filosofia. Depois fui para o Rio Grande, voltei para Rio do Sul, e Porto Alegre, no colégio São Manuel. Um dia, o padre Marcos Sandrini, que foi meu aluno interno em Rio do Sul e era nosso provincial. Ele disse: “Lino, estou pensando em fazer você pároco da igreja de São Manuel”. Eu disse: “Não, padre Marcos, eu só entendo de escola”. O pároco tem outro caminho, outra ocupação. O padre Guerino, que era diretor aqui há três anos, ele não queria mais ser diretor. Ele ficou ecônomo e eu fui vim para cá como diretor.

 

"Isso é importante para mim: poder transmitir a palavra de Deus"

 

O que atraiu o senhor para Itajaí? O que tinha de diferente aqui que fez o senhor ficar?

Padre Lino: O que me impressionou foi o povo, as atitudes, a interlocução que a gente tinha, a amizade e a abertura. Era um povo tipo carioca, bem soltão. Também é o meu estilo de vida. Naquele tempo era obrigado a botar ordem, digamos assim. Os professores eram todos salesianos. Até o tempo do Cacildo Romagnani, que foi professor, outros que vieram depois e leigos. Até senhoras que entraram para ser professoras. Porque em 1970, nós iniciamos com o regime feminino. Até então era só meninos. Salesiano só meninos, e no colégio São José, só meninas. Não existia outro colégio só para masculino católico. Eram todos leigos e colégio público. Lá as religiões são várias. Então queriam também uma maior profundidade na religião e por isso colocaram o Salesiano. Era nós e o padre Mansueto Trés. Depois o padre Mansueto ficou leigo, dirigiu a nossa universidade. Ele começou toda aquela construção que hoje está lá [Univali], de tão grande que é.... Uma vez eu recebi perguntas lá da Venezuela, Colômbia, não sei qual região, que hoje formamos o encontro das Escolas Salesianas da América: “O que aconteceu quando começou com o feminino no Salesiano?” A disciplina melhorou 70%. Essa é uma experiência que eu tenho. [O senhor tinha uma caderneta para manter a disciplina? Como funcionava?] A caderneta tinha mais ou menos uns 10 centímetros e diariamente eles chegavam. Tinha caixinhas. Eles entregavam a cadernetinha aberta, uma depois da outra. Eu tinha uns meninos que vinham me ajudar a carimbar a “presença”. Um dia me roubaram o carimbo. Mas para carimbar tinha que molhar na almofada, e era em cor azul. Eu pensei: como vou fazer para descobrir quem é? Eu mudei de tinta. Eu tinha dois carimbos de presente. Botei tinta vermelha. No dia seguinte descobri três ou quatro que tinham pegado o carimbo e a almofada. E o que aconteceu? Eles já estavam vendendo carimbo de presente. Isso foi muito gozado. (risos)

 

"Era um povo tipo carioca, bem soltão. Também é o meu estilo de vida. Naquele tempo era obrigado a botar ordem, digamos assim."

 

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O senhor foi responsável pela formação, pela criação da banda da escola?

Padre Lino: Sim, foi lá em 69, mais ou menos. Eu tinha experiência porque, em Rio do Sul, o padre Valir Andreata, que faleceu há três anos, era o orientador. Quem treinava era o padre Dario Bertoldi e me colocou de encarregado: “Te vira”. Ah, eu gostava, já tinha aprendido um pouco como seminarista em Ascurra. Eu comecei a minha vida no triângulo, passei no repique e depois passei para o bombardino, que é mais fácil, porque o bocal é maior, e depois trompete. Eu fui atrás e escrevi toques só de cornetas. E vi que também a banda precisa modular. Assim fundei a banda marcial. Uma coisa que eu fazia era pegar músicas de sucesso para tocar. Cheguei a tocar a entrada dos romanos do filme Ben Hur. Era uma maravilha aquilo. Musiquei, copiei... “Não tasca minha nega” era sucesso. A banda, meu Deus, lá em Bagé, a turma adorava. “Farofa” saía bem. Já estava aqui, naquele tempo o sucesso era o Fuscão Preto. Me chateiam até hoje... [Por quê?] Eu, com a banda marcial, pegava músicas de sucesso e no meio fazia sempre uma virada. Um toque de caixa para descansar os lábios também. A nossa banda era encarregada de abrir o desfile da Imaculada para a Matriz, e depois puxar o nosso colégio. Ocorreu que tocou a música Fuscão Preto bem na frente do palanque. Eles falaram que alguém ao lado do capitão, que era autoridade máxima ali, disse: “Capitão, quer que eu mande prender o padre?” Ele disse, “não, não, deixa para lá...” Aqui tinha mudado a política, mas nada a ver. Nunca me meti em política (risos).

Suas apresentações são um sucesso até hoje. O senhor sempre teve esse gosto pela música?

Padre Lino: Desde pequeno. Eu tenho um irmão mais velho que aprendeu a trocar trompete. Teve um filme russo, que era um sucesso mundial, Tema de Lara. Eu toquei. Nós fizemos homenagem às mães. Nós e o colégio São José naquele salão de cinema lá na rua 15 de novembro, no Cine Luz. Estava entupido de gente quando eu comecei a cantar, a turma em peso, de pé, batendo palma. As maiores palmas que eu recebi. Eu não sei como é que eu me aguentei sem rir ao mesmo tempo. [Até hoje suas apresentações são entusiasmadas e marcam os alunos. Esse momento de cantoria é importante para o senhor?] Principalmente nas Olimpíadas, Olis, Micro-Olis, Mini-Olis. A última coisa: “O padre Lino para cantar o hino do colégio”. Em Porto Alegre tem até uma coreografia, mas lá é o canto inteiro do aniversário do colégio. Eu botei só no estribilho, que na hora do estribilho começa a coreografia, tem que pular. Eles têm que pular mais alto do que eu, grande ou pequeno, tem que pular.

 

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"Isso é importante para mim: poder transmitir a palavra de Deus. Para isso também me tornei padre."

 

Essa era a marca da educação salesiana, principalmente os padres. Não sei se almoçavam ou faziam lanches, porque estavam conosco na sala e no pátio... Essa integração ainda é assim?

Padre Lino: É o sistema mesmo. Vou eu para o pátio porque estou ali. O padre Renato é diretor do parque, da paróquia, do colégio e do Camboriú. Estamos em cinco padres: um de 96 [Geraldo P. D'Ávila], outro de 95 [Alvino Bortolini], eu 88, o outro 63 [Renato dos Santos], quase, e outro 45 [Jeferson J. Moreira]. [Os senhores não têm mais ocupação com a educação?] Direção geral não. Só estou na pastoral. São quatro que têm o comando geral da formação religiosa. A minha parte se faz aqui no colégio, onde dou a base para eles discutirem. Eu sou assessor da pastoral religiosa. [O que orgulha o senhor em sua trajetória?] Olha, vocês são parte disso. Nas missas que eu rezo, sábado e domingo, fora do colégio... Eu sempre faço um esforço para trazer para o cotidiano. Para quantas pessoas está chegando essa mensagem aqui? Isso é importante para mim: poder transmitir a palavra de Deus. Para isso também me tornei padre.

Estamos na Semana Santa, porque as igrejas cristãs consideram a Páscoa a principal celebração e não o Natal, por exemplo?

Padre Lino: Porque alguém que apareceu no mundo como gente, é Jesus - um homem que veio para trazer uma mensagem de resgate da humanidade para Deus, porque se tinha afastado de Deus. Não é fácil. Isso só compete a um homem que veio da divindade. Só era possível ser uma pessoa: foi Jesus. O Natal é o nascimento dele. Mas ele veio assumindo uma grande responsabilidade. Maria, quando foi oferecido a ela para ser a mãe do Messias, Jesus, ela aceitou sabendo tudo o que ia acontecer. Eu, para mim, ela soube também como é que ele ia passar na vida pregando o bem, mas por causa disso mesmo, o que nós fizemos com ele, com nossa maldade, a maldade da humanidade... O Messias, o Cristo, aquele que foi prometido, foi tratado, destratado, crucificado, assassinado, morto, sepultado. Nenhum que veio, nenhum das grandes religiões até hoje ressuscitou. Ele ressuscitou porque já estava lá, não é destino, estava na missão que ele assumiu: morrer pela humanidade do pior modo possível. Eu sempre digo que nós não temos mais missão. Nós somos missão. Pelo bem ou mal, nós estamos iluminando o mundo.

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"Ele [Jesus] ressuscitou porque já estava lá, não é destino, estava na missão que ele assumiu: morrer pela humanidade do pior modo possível."

 

Se Jesus voltasse ao mundo hoje, o senhor acredita que ele morreria na cruz novamente?

Padre Lino: Eu não acho nada. Como é que vocês veem o mundo? Eu tenho coragem de dizer que o diabo está solto. Jesus disse para ele: "Um dia você vai perder o poder que Deus deu para ti". Ele é um anjo decaído, então ele dirige o mal hoje. Por tudo ele quer tirar filhos de Deus. As próprias tentações. Quando nós agimos bem, ótimo. Nós é que damos a nossa vontade, sim ou não. Tem tanta gente que morre por pregar. O bispo da Nicarágua foi assassinado em plena missa. [O senhor acha que hoje as pessoas estão matando por nada?] Eu estou muito admirado com Santa Catarina de tanto feminicídio, que vergonha. Meu Deus, o que é isso? Não entra na minha cabeça. Se deu uma separação, por que estão se separando? Será que a culpa não é tua? Na quarta-feira de Cinzas, todas as igrejas com suas capelas cheias... Eu vou lá porque vou ganhar o perdão dos meus pecados. Não ganha perdão nenhum. Só estás fazendo uma coisa: aceitando o convite que Deus te fez para voltar.

O senhor fala dessa volta para Cristo, ainda nesse tema da Semana Santa. O jejum é uma tentativa, é uma busca desse retorno para esse Cristo?

Padre Lino: Não só eliminar alguma comida ou não tomar alguma bebida, mas o jejum de eu parar de falar mal do outro, o jejum de fazer fofoca, o jejum de me comportar melhor.... Esse é o pior jejum que tem, mas o melhor para a gente... Jejum é fácil, é só fechar a boca. Mas aqui você tem que abrir o coração. É isso que é importante para nós. Também um convite a Jesus, para que esse jejum seja também de comida, bebida, mas o jejum da convivência. Ser a alegria, não a pedra ou o tropeço na vida do outro. Perdão, perdão falta muito.

 

"Perdão, perdão falta muito. Estamos vivenciando a semana mais importante do ano para a Igreja Católica."

 

Estamos vivenciando a semana mais importante do ano para a Igreja Católica. Qual mensagem o senhor deixa para quem nos acompanha?

Padre Lino: Vou transmitir uma bênção: sobre todos nós venha esta benção que Jesus nos traz, não somente com a sua morte, acima de tudo com a sua ressurreição. Ele já foi, cumpriu missão. A ressurreição agora é nossa. Nós acolhemos este convite que ele nos fez e nós ressuscitamos já na Quaresma. Tanta coisa bonita, desafios que nós vencemos de superação dos nossos defeitos, dos nossos desafios para melhorar a nossa vida.




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