Arte sem fronteiras
Livro infantil de autor itajaiense será distribuído pelo MEC para 30 mil crianças do Brasil
“Criança de todas as cores” traz mensagem solidariedade e igualdade
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Por Renata Rosa
A pureza das brincadeiras infantis, em toda sua multiplicidade cultural, inspirou o poeta e produtor cultural Antonio Floriano a lançar em 2018 “Criança de todas as cores”, ilustrado com gravuras do amigo de longa data, Augusto Raio. Quatro anos depois, a mensagem de solidariedade e fraternidade do itajaiense chega a alunos de escolas públicas de todo o país graças ao reconhecimento do MEC, que adquiriu 30 mil exemplares da obra, através do Plano Nacional do Livro Didático.
“Independente de sua origem, toda criança faz as mesmas coisas, se diverte com outras crianças, o adulto é que complica, por isso quis trazer esta mensagem por um mundo mais generoso, mais fraterno, como é o mundo da criança”, explica o autor.
É a segunda obra de Floriano editada pela Escriturinhas (SP) a conquistar a criteriosa banca que seleciona os livros que serão trabalhados em sala de aula para o público entre cinco e sete anos. O primeiro foi “Um cavalo para Eduardo” (2018), que também foi sua estreia no gênero literatura infantil. “O livro é inspirado em meu filho, que queria ter um cavalo. Todo dia ele sonhava com esse cavalo, então achei que renderia uma história bem lúdica”, revela.
“Criança de todas as cores” é a segunda parceria com o amigo Augusto Raio, 62, artista plástico conhecido pela xilogravura de estilo único, que impressiona os críticos pelo modo inusitado com que trabalha os instrumentos e produz texturas sobre a tela. Augusto é filho de espanhóis e se criou no São Vicente, onde foi trabalhar com um tio num estúdio de fotografia. Ele conta que começou a despertar para as artes ainda criança, mas foi só nos anos 80 que sua carreira desabrochou, depois da criação da Casa da Cultura Dide Brandão, em 1982.
“Eu comecei no ateliê livre da Ana Foggaça e passei a expor em coletivas de arte pelo Estado, até em Curitiba e São Paulo”, revela. Nesta década, foi criada a primeira Associação de Artistas Plásticos, primeiro em Balneário e depois em Itajaí, e graças à efervescência cultural da época, muitos talentos foram revelados como Lindinalva Ceola, Elda Krause, Marina Bernal, Osni Shauffert e Edmundo Campos. “Naquele tempo tinha a Semana da Marinha, em dezembro, quando vários artistas mostravam sua arte em praça pública, era muito bonito”, relembra.
Floriano foi parceiro de Bento Nascimento na célebre obra “Celacanto” (1989)
A arte de Augusto também foi parar no teatro. Em 1989, ele fez a cenografia do espetáculo “Quarentena”, com base nos poemas do cultuado poeta peixeiro, Bento Nascimento, morto em 1993. Bento foi amigo pessoal e parceiro de Floriano nos anos 80, quando lançaram a obra que entrou para a história da poética itajaiense: “Celacanto”. Entre os atores que encenaram suas poesias estavam os jornalistas Sandro Silva e Vânia Campos.
Mas a primeira colaboração de Augusto com a obra de Floriano não foi através da gravura, mas da impressão artesanal em serigrafia do livro de poemas “Hanami” (2000), feito em seu ateliê, no Dom Bosco. Fazia poucos anos que Floriano havia voltado de uma temporada no Japão, que rendeu outro livro “Cadernos do Japão”, editado por Massao Ohno, mesmo editor de autores célebres como Hilda Hilst, Lindonfo Bell e Rodrigo de Haro.
Floriano já publicou cinco livros de poesias e três de literatura infantil. “Vento no cata-vento” foi lançado em 2020 e tem mais um no prelo. Mas sua paixão é mesmo a poesia. “Se algo me chama a atenção, transformo em arte. Prefiro a poesia porque a prosa racionaliza demais. A poesia dispensa explicações, cada um dá sentido a ela de acordo com sua cultura”, afirma. Suas maiores influências são Manoel Bandiera, Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto.
Já Augusto lançou em 2007 o livro “Xilogravuras”, um apanhado das quatro décadas de carreira. E segue na labuta de passar seus conhecimentos à nova geração de artistas na Casa da Cultura.