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A persistência e o cajueiro da 13 de Maio
Muitas vezes passamos por um lugar e não damos conta do quanto de história está diante dos nossos olhos. Na escola aprendemos a valorizar grandes obras, grandes vultos, deixando de lado muitos personagens que passam por nós cotidianamente e que guardam para si valorosas histórias de vida.
O mesmo acontece com alguns espaços urbanos, como o coelho da rua Brusque, as figueiras da Praça do Cachorro, o coreto da Praça Vidal Ramos.
Esse também parece ser o caso de quem passa por uma casa antiga, feita de alvenaria, incrustada na confluência das ruas João Bauer e Treze de Maio, no centro, quase defronte à antiga Caixa d´Água. Quem passa no local mal consegue perceber a existência de um majestoso cajueiro, por seu tronco estar camuflado atrás de folhagens e um muro alto.
Acontece que aquela árvore frutífera exótica foi plantada no ano de 1946 e tem uma história bastante interessante.
Em uma tarde chuvosa o menino Félix Eugênio Reichert chegou em casa trazendo nas pequenas mãos o que considerava uma preciosidade. Abriu a porta da cozinha, entrada pela rua Treze de Maio, com um entusiasmo fora do comum e foi logo mostrando para sua mãe (Inês Deschamps Reichert – conhecida como Dona Amândia) o exemplar de um belíssimo caju que recebera de presente do seu Abércio Werner, vindo lá das terras dos Werner.
Estávamos no ano de 1946 e o caju não era uma fruta muito conhecida da população sulina, principalmente dos descendentes europeus, como era o caso da Dona Amândia. O desconhecido, principalmente nessa época, dava margens a muitas crendices. Talvez por isso, Dona Amândia rapidamente retirou a fruta da mão do menino Félix e jogou fora por acreditar que era venenosa. O menino desconsolado diante da desqualificação da sua “joia”, tão peculiar e exótica, resolveu enterrá-la no quintal de casa, no mesmo lugar onde fora jogado momento antes por sua supersticiosa progenitora.
Dona Amândia estranhou por um tempo o hábito diário do filho em jogar um pouquinho de água naquele pedaço de terra, mas não desconfiou do que estava acontecendo até que a semente começou a germinar. Quando a árvore já estava tomando porte, Félix contou à mãe que havia preservado a semente da fruta que ela própria havia jogado fora. Dona Amândia achou interessante a história do filho e resolveu manter a árvore viva, no meio do quintal, como exemplo de persistência da vida.