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Crise ambiental: implicações filosóficas


A crise ambiental não é mais um “devaneio” de alguns teóricos e mili­tantes de movimentos ambientais. A crise é uma realidade e vem suscitan­do nos últimos anos a promoção de inúmeros eventos, escritos, ativida­des realizadas por instituições edu­cacionais públicas e privadas, or­ganizações e movimentos sociais. Mesmo que muitos dessas te­nham sensibilizado para o tema, ainda perdura a gravidade do pro­blema. As hecatombes que temos assistido, e que envolvem a todos (in) diretamente, desafiam para a necessidade de repensar o presente e o futuro da vida no planeta. Há quem diga que frente ao aquecimen­to global a vida na Terra está por um fio, ou dito de outro modo, a Terra pede socorro. A situação posta leva a crer que não temos mais o que fazer ou a perguntar: até quando isso vai continuar? Onde iremos parar se isso não findar? A questão é complexa e com posições diversas, sendo que uns defendem que as transformações são oriundas de decursos naturais, ao passo que, para outros, são resul­tados da ação humana.

Do ponto de vista filosófico, a questão que merece ser enfrentada e refletida diz respeito à relação en­tre ser humano, natureza e mundo. A crise ambiental não é problema de hoje, mas desde há muito tem­po. Nasce no seio de um projeto de organização civilizacional, em que homem, natureza e mundo não interagiram e não se construíram conjuntamente. Nesse aspecto, duas ideias merecem destaque. A primeira vem da vertente moderna que coloca o homem no centro de tudo, resultando na “ideia de que o ser humano é tão mais humano quanto mais ele consegue estender seu controle sobre todos os níveis e planos da existência. Em face desta civilização que perdeu a noção de limite, a noção de medida, a crise ecológica passa a ser vista como o sintoma de um desequilíbrio cujas causas vão muito além de fenô­menos como a poluição industrial ou o efeito estufa” (UNGER, 1992, p.11). O problema radica-se na per­da da referência ética que se baseie no respeito, integração e cordia­lidade entre a natureza humana, a natureza biodiversa e o mundo em que estamos e pertencemos. A lógica do crescimento se sobrepôs em nós de tal modo que hoje so­mos logrados e instigados a pensar que isso não significou desenvol­vimento, porque desenvolvimento é a defesa da sustentabilidade da vida, que estende à vida humana, a vida animal, a vida social, enfim, que congregue o ser humano, a na­tureza e o mundo. Segundo Boff, o que estamos assistindo deve-se ao fenômeno do descuido, do descaso e do abandono, numa palavra, da falta de cuidado. Diz: “Atulhados de aparatos tecnológicos vivemos tempos de impiedade e de insensa­tez. Sob certos aspectos regredimos à barbárie mais atroz”.

A situação é complexa e desafia a todos nós, seja para refletir, seja para agir, seja para divulgar e re­ferir boas iniciativas. É inegável os avanços que estamos tendo nos úl­timos anos, sobretudo se olharmos dados do IBGE que revelam cres­cimentos estatísticos de ações de proteção, recuperação, transforma­ção, organização e aproveitamento de materiais que há poucos anos eram descartados. Soma-se a isso, em nível nacional, a preocupação com a construção de uma cultu­ra do cuidado e responsabilidade ambiental, tão bem referidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Ambiental, apro­vada em junho do corrente ano, onde se lê:“O atributo ‘ambiental’ na tradição da Educação Ambien­tal brasileira e latino-americana não é empregado para especificar um tipo de educação, mas se cons­titui em elemento estruturante que demarca um campo político de va­lores e práticas, mobilizando atores sociais comprometidos com a prática político-pedagógica transformadora e emancipatória capaz de promover a ética e a cidadania ambiental”. Esse modo de problematização não colhe resultados imediatos, a não ser aque­le de romper com certas facilidades e preocupações de etiquetas que servem mais para agradar os olhos que a consciência e consolidação de ações duradouras, permanentes e continuadas.


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