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Quem mudará: a igreja ou os jovens?


A JMJ, que terminou ontem, é um evento criado para atrair jovens à Igreja Católica e despertar neles o espírito missionário.

Pesquisas indicam que o número de católicos se reduz em todo o mundo, especialmente entre jovens. No início do século 20, quase 90% da população da Europa Ocidental se assumia como católica. Hoje, apenas 24%.

No Brasil, o DataPopular constatou que, em apenas três anos, o índice de jovens católicos se reduziu em 30,6%. Em 2010, 63% dos jovens entre 16 e 24 anos se declaravam católicos. Hoje, apenas 44,2%.

Quais as causas desse desinteresse dos jovens pela Igreja? Por que eles são presença rara nas missas de domingo?

Há dois fatores a serem considerados. Primeiro, o crescente desinteresse das famílias católicas em cuidar da educação religiosa de seus filhos e netos. Com frequência, amigos me indagam: “Minha filha tem 18 anos, meu filho 16, e nenhuma motivação religiosa. O que fazer?” Dou sempre a mesma resposta: “A pergunta chegou com 10 anos de atraso. Se seus filhos tivessem oito e seis anos, eu saberia o que responder.”

O que esperar de um jovem que, na infância, jamais viu os pais participarem da Igreja, orar em família, comentar um texto bíblico? O que esperar se, na Semana Santa, se aproveita para viajar, e não para celebrar a morte e ressurreição de Jesus? E o Natal é comemorado em família em torno da figura consumista de Papai Noel ou como festa do nascimento de Jesus?

Os próprios anacronismos e rigores da Igreja são outro fator de afastamento dos jovens do catolicismo. Como atrair jovens se pesa sobre eles as exigências de manter a virgindade até o casamento, jamais usar preservativo e, uma vez casados, não ter relações sexuais exceto se houver intenção de procriar?

Soma-se a isso o despreparo de muitos padres e freiras. No afã de cobrir o déficit de sacerdotes, pois há cada vez menos vocações e muitas evasões (padres que se casam e ficam impedidos de rezar missa), a formação dos seminaristas no Brasil é, em geral, de péssima qualidade, salvo raras exceções.

A filosofia é estudada em apostilas e cópias de sites, sem contato com fontes primárias e textos integrais. A teologia é quase um curso de catequese para adultos, mera retransmissão da tradição doutrinária, sem debates e pesquisas sobre temas da atualidade.

As freiras nem curso superior costumam fazer, como se a dedicação com que se entregam à pastoral fosse suficiente para uma eficaz evangelização. Há bispos e padres que as encaram como meras coadjuvantes, adultas infantilizadas que devem ser mantidas distantes dos temas teológicos.

A Igreja, para atrair jovens, deve renovar sua postura nesse mundo globalizado, pós-moderno, do século 21. Para isso, basta aplicar as decisões do Concílio Vaticano 2º e valorizar o protagonismo dos leigos, sobretudo dos jovens, na missão evangelizadora.

Caso contrário, haverá, sim, jovens da Igreja, fechados em movimentos espiritualistas, descolados da realidade, subjugados por um moralismo que centraliza o pecado na sexualidade, indiferentes aos apelos do papa Francisco de não transformar a Igreja em uma ONG, mas fazê-la sair pra fora, ser fermento na massa, participar, como Jesus, da conflitividade e dos desafios do mundo em que vivemos.

Não custa recordar que todos nós, cristãos, somos discípulos de um prisioneiro político. Jesus não morreu de doença ou de acidente em Jerusalém. Foi preso, torturado e condenado à morte na cruz por dois poderes políticos.

Frei Betto é escritor, autor de “Hotel Brasil – o mistério das cabeças degoladas”


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