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Inimigos
No século 17, James Harrington já dizia: uma república é tanto mais perfeito quanto mais os eleitos são trocados num breve período de tempo. Essa frase condiz com a recente polêmica da Bienal, onde o artista plástico Gil Vicente se coloca atirando contra a cabeça do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e degolando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É uma arte ou apologia ao crime e à violência? E o que tem a ver Harrington e Gil Vicente?
A resposta é que no Brasil os partidos caem no anonimato e os presidentes continuam em cena. Hoje, a candidata Dilma Rousseff levará muitos votos pela história do presidente Lula. Enquanto seu partido é apenas uma ferramenta burocrática para o TSE, que nestas eleições só teve força de aplicar multas insignificantes.
Seguindo a filosofia de Harrington, precisaríamos de um rodízio de políticos para não viciar uma democracia, e, portanto, como seria uma eleição sem os eixos FHC e Lula? Será que o Brasil consegue caminhar sem o apoio de um desses dois? O nosso país está tão dependente deles assim?
A OAB/SP acaba de responder que estamos. Pois, para eles, essas imagens representam uma instituição sendo agredida. Longe de mim querer questionar a decisão da OAB paulista, entretanto, é mais fácil retirar uma tela de uma exposição do que mover ação contra políticos corruptos do cenário nacional. Ou seja, a arte pode ensinar violência, e os políticos execráveis flagrados desviando dinheiro público nos dão boa educação. É isso que percebo. Que roubar com arte não é crime, e apenas a arte pode gerar crime. Peço perdão se ofendi alguém.
Outro dia uma reportagem exibida na Cultura mostrava Saramago falando que só haveria democracia com direitos humanos e direitos humanos com democracia. Logo não temos uma democracia. A república de todos continua sendo utópica pelo fato dos cidadãos estarem longe dos seus direitos garantidos pela constituição. Somos obrigados a votar. Isto é levado a sério. Por outro lado, alimentação, saúde, moradia, educação, emprego entre outros, são promessas de campanhas de políticos que querem apenas votos. A mídia continua apresentando baixaria no período eleitoral porque as correntes presidenciáveis não se aposentam. Não é preciso matar ninguém. Só é preciso saber pendurar a chuteira na hora certa.
Em São Paulo, o candidato Tiririca lidera as intenções de votos para a câmara dos Deputados. Não falo dele como uma renovação política. Doravante, estamos aprendendo com ele. O eleitorado está cansado. O eleitorado paulista está disposto a contribuir com a palhaçada que ficou a política brasileira. Essa lição vem mostrar que a democracia brasileira continua aliciada. Somos apenas votos numa urna eletrônica. E isso me gera medo dessa tecnologia. Todavia, uma política refletida por seus eleitores pode resultar como um inimigo para seus candidatos. O próprio presidente da República quer que a imprensa seja um veículo de prestação de conta ao seu dispor. Convém então descobrir quem são os mocinhos e os bandidos da história eleitoral, para que nós eleitores votemos. E, sobretudo, em silêncio.
José de Souza Júnior
graduado em Filosofia pela Unifebe/Brusque e mestrando em Ciencias Politica-UFSCar/São Carlos/SP
Contato: js_junior@yahoo.com.br