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Por que democratizar a comunicação
Eu sempre soube que a informação é transformadora, mas não imaginava que no Brasil a comunicação é apenas um negócio que gira em torno dos interesses mais desumanos e cretinos que se possa imaginar. Pois a lógica é simples: não importa como o lucro vai ser gerado, mas ele deve existir. Portanto, independentemente das consequências que o oportunismo midiático cause na sociedade e independentemente de o quanto isso pode ser destrutivo, o jornalismo no Brasil vai evitar o quanto puder atender às necessidades do povo.
Diante de todas as aberrações com as quais me deparei ao longo da construção do meu conhecimento, as mais incompreensíveis são o comodismo e o conformismo exacerbados. Como pode uma parcela da sociedade considerar inviável modificar a estrutura capitalista sem ao menos tentar? É claro que é mais fácil deixar as coisas como estão e se adaptar, mas não necessariamente o que é mais fácil é o melhor. Por isso, critico veementemente os estudantes de jornalismo que veem a possibilidade de trabalhar nas empresas de comunicação reacionárias na tentativa de levar pautas transformadoras. A partir dessa revelação me pergunto se a transformação que procuram é a da empresa ou a da sociedade. E me atrevo a dizer que nem uma nem outra serão possíveis se pautadas em um veículo de comunicação representado pela direita.
Se existe realmente um interesse em modificar o jornalismo no país, que seja feito radicalmente, isto é, comunicando nos meios alternativos e/ou lutando pela democratização da mídia.
A educação é a ponte para a transformação social. Mas o que é a comunicação senão conhecimento através da informação? Reconheço que as mudanças necessárias acontecerão ao longo do tempo paralelo à militância e à dedicação que para ela é dado. Mas entendo que tais mudanças começarão a partir do momento em que houver pluralidade na comunicação. Pois, com isso, é possível mostrar o lado da esquerda e o lado da direita. O lado de quem defende o feminismo, a liberdade de escolha, e o lado do conservadorismo. Com a pluralidade é possível levantar questionamentos, oferecer informações contextualizadas de fato. Sendo assim, pode-se excluir um dos conceitos mais debatidos no jornalismo: imparcialidade.
Alguns jornalistas já questionados sobre a imparcialidade na profissão disseram que em parte a imparcialidade não existe, mas que ela é necessária. Como acho improvável que uma empresa vá abordar os dois lados ou três seja lá quantos lados forem e ser plural, considero que a imparcialidade é um conceito usado para manter os estudantes de jornalismo imunes a qualquer sentimento de transformação social através do jornalismo. Portanto, não vejo problema algum em uma empresa de comunicação ser parcial apesar de saber que assim já é. Pois, sendo assim, fica mais claro saber para quem ela comunica. O que questiono é a falta de pluralidade na comunicação. Ao saber que a mídia tradicional comunica a favor de um grupo político, observo claramente uma mudança significativa na sociedade com a mídia alternativa tendo o mesmo espaço que a tradicional. Porém, comunicando para a população pobre, negra e feminina.
O artigo 54 da Constituição Federal de 1988 proíbe que deputados e senadores sejam proprietários ou diretores de canais de TV e rádio. No entanto, segundo o site Donos da Mídia, 271 políticos são sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação. E os partidos políticos mesmo que com as siglas diferentes que apresentam a mesma perspectiva: PSDB, PMDB, PL, DEM. As renovações e autorizações às concessões são feitas pelo Executivo e o governo se defende dizendo que uma concessão só pode ser renovada por decisão judicial. Portanto, lhes pergunto: há possibilidade de modificar a maneira de comunicar no Brasil sem ações radicais?
Com a democratização da comunicação é possível modificar as opiniões de senso comum ao oportunizar um debate mais reflexivo. É possível oferecer diversos debates mostrando para a sociedade que existe uma burocracia e um militarismo no país que gera medo e incentiva o crime com a opressão, de que a meritocracia é uma mentira e que não há violência pior do que a do capital. Por conta dessas condições que farão parte da democratização da comunicação é que ela é tão difícil de ser aprovada. Além, é claro, de o sistema já ter conseguido convencer muitos jovens de que a estrutura é essa e não há como mudar. E talvez seja justamente por essas condições que eu estudo e milito para democratizar a comunicação. Democratiza-se a comunicação para democratizar as relações sociais, a informação, o conhecimento. Para propor reflexões e discussões sensatas e coerentes. Enfim, para transformar a sociedade.
*Estudante de jornalismo na Universidade Federal de Pelotas (UFPel)