Balneário Piçarras
Enfermeira de Itajaí é rainha da Festa de Nossa Senhora do Rosário
Maria Paulina ganhou o prêmio Simeão em 2021 e foi confirmada como rainha da celebração católica ao lado do filho
Juvan Neto [editores@diarinho.com.br]
A primeira servidora pública negra a ocupar um cargo de dirigente da Secretaria de Saúde de Itajaí, Maria Paulina Pereira da Silva, 46 anos, agora assume outro desafio: ela e seu filho Vinícius Passos da Silva serão rainha e rei da tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário de Balneário Piçarras, em 2025.
A tradição remonta a mais de 100 anos no litoral catarinense, e a celebração de Balneário Piçarras, já com três décadas, é uma das mais importantes da comunidade afro-brasileira do estado. Maria Paulina, neta de estivador e benzedeira itajaienses, sobrinha de Dona Conceição, primeira liderança de movimento negro mulher na cidade, ficou emocionada ao saber que será coroada.
A festa de Nossa Senhora do Rosário finalizou domingo passado na Igreja Santo Antônio de Pádua, bairro Santo Antônio, em Piçarras. Domingos e Ana Lúcia Inácio, casal imperial deste ano, elogiou a escolha da enfermeira itajaiense para substituí-los na celebração.
Neste ano, novamente, o Grupo Cultural Catumbi, de Araquari, formado por negros e negras devotos também marcou presença. O tom da missa também foi de consciência crítica, e abordou o racismo estrutural ainda presente no Brasil.
Dona Conceição Pereira, uma das organizadoras, foi quem anunciou os novos anfitriões. Emocionada, Maria Paulina disse que essa história lembra as raízes de sua família.
Raízes afro
Maria Paulina, vencedora do prêmio Simeão 2021, em Itajaí, por ser a primeira negra com cargo de chefia na secretaria de Saúde, é especialista em saúde da família, estudiosa e pesquisadora das raízes culturais afro-brasileiras e palestrante em temas de saúde e espiritualidade.
Ela iniciou a formação acadêmica através de bolsa de estudos no Colégio São José, onde a mãe dava aulas de matemática. Ingressou na Univali após ter passado no vestibular em Itajaí e também na UFSC, em Floriapa. Paulina cresceu numa casa popular na rua Jorge Matos, no centro de Itajaí, destinada a operários da fábrica de tecidos Tecita, onde sua mãe trabalhou.
“Meu avô estivador sempre dizia que negros tinham que ser como flechas, determinadas, pois tinham inteligência para chegar onde quisessem, mas teriam que trabalhar em dobro, pois sua capacidade sempre seria questionada”, reforça Paulina.