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Reeleição: o envelhecimento do futuro


Reeleição: o envelhecimento do futuro
(Foto Ilustrativa: TSE)

O futuro envelhece quando as transformações que estabilizam os pilares sofrem corrosões intensas que desafiam a edificação. A pintura da estrutura e o lixo ao redor informam o estado debilitado, depreciado, desvalorizado de sua existência. O instrumento da reeleição no Brasil já foi belo e seguro, mas se degradou pelo uso inoportuno da prepotência.

Iniciada em 1997, a reeleição tinha a missão política de garantir estabilidade administrativa da gestão pública, evitar a descontinuidade de projetos de governo por interesses políticos adversários, e dar impulso a políticas de Estado. Políticas de Estado se fortalecem pelo tempo [Plano Real, Lei de Responsabilidade Fiscal], se fixam no comportamento das pessoas como valor estruturante e não poderem mais ser retiradas do caminho futuro. Num momento de transição política e econômica, a reeleição cumpriu papel importante.

A ferrugem da reeleição se concentra nas dificuldades de alternância de um partido político ou grupo no poder, parâmetro fundamental à democracia e ao vigor político das disputas eleitorais. A perpetuação de um grupo no poder fragiliza as mudanças de ideais políticos e de diversidade nos relacionamentos políticos. Mas diante do caótico cenário dos anos anteriores, foi eficiente para a superação das instabilidades políticas e econômicas.

Durante os mandatos dos dois primeiros Presidentes da República reeleitos [FHC e Lula], ainda em ambiente de transição e estabilidade, cumpriu-se os regimes europeus do pós-guerra. A soma ...

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Iniciada em 1997, a reeleição tinha a missão política de garantir estabilidade administrativa da gestão pública, evitar a descontinuidade de projetos de governo por interesses políticos adversários, e dar impulso a políticas de Estado. Políticas de Estado se fortalecem pelo tempo [Plano Real, Lei de Responsabilidade Fiscal], se fixam no comportamento das pessoas como valor estruturante e não poderem mais ser retiradas do caminho futuro. Num momento de transição política e econômica, a reeleição cumpriu papel importante.

A ferrugem da reeleição se concentra nas dificuldades de alternância de um partido político ou grupo no poder, parâmetro fundamental à democracia e ao vigor político das disputas eleitorais. A perpetuação de um grupo no poder fragiliza as mudanças de ideais políticos e de diversidade nos relacionamentos políticos. Mas diante do caótico cenário dos anos anteriores, foi eficiente para a superação das instabilidades políticas e econômicas.

Durante os mandatos dos dois primeiros Presidentes da República reeleitos [FHC e Lula], ainda em ambiente de transição e estabilidade, cumpriu-se os regimes europeus do pós-guerra. A soma de estabilidade política e econômica [FHC] e, a seguir, de políticas de inclusão social e econômica [Lula]. A terceira etapa da história política da Europa, foi a ascensão do Liberalismo político orientado à fortificação de mercado e relações comerciais privadas. No brasil esse estágio foi “esquecido”. A corrosão da reeleição se deu com a manutenção do mesmo grupo político no poder, isto é, ausência de alternância de poder [2011-2016]. Criam-se vícios institucionais, a erosão da independência das instituições e o infortúnio do personalismo político resplandece. A mesma imagem no espelho desvaloriza o reflexo.

A partir de então, perdeu-se a estabilidade política, se afastaram as mudanças de futuro, permanecem as mesmas mãos e no mesmo lugar por longo tempo, cresce a sensação de vícios de corrupção sem fim. A ética e o debate político criam pus. Ao invés de se pensar em futuro, o eleitor se orienta pela vingança, motivado pelo sentimento de traição. O futuro, tão rápido e tão cedo, envelheceu.

Um prefeito, governador ou presidente eleito se coloca na esteira do tempo da reeleição. O jogo de poder modifica-se e passa a orbitar o umbigo do executivo. As tramas do tecido político se fazem para ficar. E, não por acaso, aumenta-se à estratosfera a quantidade de cargos comissionados, infla-se os sistemas de trocas entre legislativo e executivo. Por bebericar o poder ou ficar com sede o Tempo da Política se torna o mutante “situação-oposição”, e vive a insidiosa tarefa de projetos incompletos a promover a permanência no poder.

A reeleição, como outros aparelhos da política, sofre de Progéria [doença genética, progressiva e sem cura, que provoca o envelhecimento precoce]. Não serve mais, não cumpre sua função de estabilidade política, e desvia as Políticas de Estado para compromissos de poder. O futuro, pelas mãos do poder, prega a peça de se tornar antigo e precisa nascer de novo.

Sérgio S. Januário

Mestre em Sociologia Política


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