Um campo muito interessante para a Semiótica é a Política. Neste mundo tão separado da dominação e do controle das pessoas, marcado pela falta de intimidade entre o eleitor, o trabalhador, o estudante sobre o “Planeta Política”, tudo pode ter muitos sentidos. Os caminhos de pensamento são soltos como “narrativas”: como alguém que solta pipa e precisa ficar olhando para o alto todo o tempo. A narrativa é uma escolha intencional, valoriza mais o desejo pessoal sobre as ocorrências do que uma ética dos fatos. Olhando somente para cima a soltar pipa e tentar controlar a força do vento e os ataques de outros, perde-se a noção de ambiente, de relações, do mundo ao seu redor.
A Constituição Brasileira, como uma pipa, tem enfrentado muitos desafios. Corpo republicano de espírito parlamentarista, se transformou numa arena de privilégios. Cada recorte feito, cada colagem posta na seda, a deixou tão desfigurada que é difícil atribuir ao enredo uma sinfonia. Dissonante, com tantas emendas, virou a incompreensão exposta no “Deus nos acuda!”, tomando rajadas fortes de vento e vácuo. É uma de armação mal feita. Voa em desequilíbrios.
A separação dos poderes, princípio de tripartição de Montesquieu, evita a concentração do poder, provoca controle simultâneo de uma instância sobre outra. Sendo um corpo, a musculatura de um braço não poderá estar mais intensa que a do outro braço ou do abdômen. Como corpo, o Estado equilibrado segue se protegendo de qualquer agente externo com forças suficientes para se manter.
A “superimunidade” em tramitação no Senado Federal é uma distorção física do corpo do Estado. Um braço agride o outro para se proteger. O cérebro não está a emitir as instruções adequadas ao corpo. A “superimunidade” é uma forma de tentar salvar um braço danificando o peito. Se o “judicialismo” do Estado tem provocado sabor amargo na boca, não se corta a garganta. É preciso compreender o problema, fazer o diagnóstico adequado, para se prescrever tratamento. Não se pode transplantar os tendões dos braços do judiciário para os lábios do Parlamento.
A “superimunidade” protege os parlamentares da possibilidade de serem observados pela justiça: cria seres “superespeciais”, heróis de um povo cuja ameaça é perder o emprego e não ter dinheiro para comprar o necessário para seus filhos. Os Políticos são serventes públicos, e devem servir ao público. A “superimunidade”, como vara de condão, ao invés de combater o problema, adiciona mais um: o privilégio jurídico. O signo que media esse pensamento é o privilégio, a casta, a aristocracia. É golpear o corpo do Estado com suas próprias mãos, dando socos no rosto, no peito, no abdômen, nas pernas: uma dor para disfarçar a outra.